A Luz de Rembrandt na Fotografia: O Segredo que Poucos Dominaram
Não basta posicionar a luz — descubra por que a direção do retratado é a chave para recriar a iluminação dos mestres da pintura.
Recebo várias dúvidas sobre “qual o melhor modificador” em um estúdio fotográfico, mas é difícil explicar que nunca é uma questão de hierarquia, o que há, na verdade, é uma razão técnica bem simples para entender o uso de todos os modificadores de um estúdio:
"Controle de contraste"
No vídeo abaixo eu explico as diferenças entre os mais famosos, o soft, octa e o stripbox e mostro como a idéia de contraste precisa ser entendida pelo fotógrafo logo no início de seu aprendizado, no momento em que se entende o desdobramento do conceito de abertura e o número f/.
Uma das referências mais intensas que surgem na iluminação é uma velha amiga dos fotógrafos: a luz de Rembrandt. Vamos viajar antes no tempo e ver Da Vinci (La Belle Ferroniere) emprestando magistralmente seus ombros 120 anos antes do gênio holandês nascer, imagino Leonardo comentando que usaria a "luz de Rembrandt" em seus quadros sem que ninguém se impressionasse...
Olhe atentamente para a pintura abaixo, é uma aula graciosa de direção de modelos:
Pelo brilho nos olhos e sombra do nariz percebe-se que há uma grande fonte luminosa bem no alto à esquerda, levemente atrás do rosto da jovem, não há um consenso sobre sua identidade, mas uma coisa é certa: é iluminada pela borda de uma janela ( veja a sombra abaixo do nariz):
Lembro que após 18 anos trabalhando em televisão, passei a não gostar muito da onipresente "contraluz" que sempre via nos vídeos, acho que depois de mais de um século, Rembrandt sentiu um fastio ainda maior, repare como no quadro abaixo a luz está ligeiramente mais dura que no de Leonardo:
Uma coisa de que poucos se lembram ou notam é que não havia flashes ou tochas de estúdio disponíveis e a Holanda é um país onde até hoje 3/4 do ano são de frio intenso, temperaturas abaixo de zero e luz solar por poucas horas por dia.
Essas restrições me fazem admirar ainda mais esses titãs da pintura e reforçam a mensagem de Henri Cartier-Bresson:
"É pela grande economia de meios que se chega à simplicidade de expressão."
O sarrafo estava alto para o holandês, pois foi outro gigante da pintura, Caravaggio, que também emprestou os ombros para que pudessem "enxergar mais longe", desta vez com uma luz dura como a armadura dop soldado em A Captura de Cristo, feita em 1602 pelo mestre do Tenebrismo.
É a luz fazendo o seu generoso trabalho, em três graduações diferentes de qualidade, da super contrastada usada por Caravaggio até a suave escolhida por Da Vinci. entre eles está Rembrandt, mas sempre mantendo o mesmíssimo ângulo, encontrando uma única posição que conseguisse iluminar por completo toda a área nobre do rosto, olhos, nariz e boca.
Um truque rápido mostra como a técnica é sutil e ao mesmo tempo poderosa:
Iluminar é Dirigir
As linhas da face e as sombras do nariz de cada quadro alinham-se perfeitamente! Não se nota diferença de uma para outra, o resultado chega a arrepiar mesmo com mais de 100 anos separando as pinturas!
Na verdade, a "Luz de Rembrandt" batiza uma prisão luminosa: não importa se você é Caravaggio, Leonardo ou a fera holandesa, com uma luz tão alta na esquerda, não há outra forma de se iluminar totalmente um rosto se não for na posição marcada pelos mestres.
Leonardo, seu contemporâneo Caravaggio e o próprio Rembrandt sabiam disso, ao mudar a posição do rosto em relação à luz, alterava-se o drama e o mistério de seus retratos.

Aplicando a Luz de Rembrandt na Fotografia
Tanto na fotografia quanto na pintura, a chamada "Luz de Rembrandt" é caracterizada por um feixe principal vindo de um ângulo de 45 graus, formando um pequeno triângulo luminoso sob o olho oposto à fonte de luz. Mas, como vimos, isso só funciona se o modelo estiver corretamente posicionado.
Elementos Essenciais:
Ângulo da Luz – Deve vir lateralmente, geralmente em 45 graus em relação ao sujeito.
Altura da Luz – Precisa estar elevada o suficiente para projetar sombras naturais e criar o triângulo de luz sob o olho.
Posição do Retratado – O rosto deve estar levemente girado para que a sombra do nariz se conecte com a bochecha sem cobrir completamente o olho oposto.
Qualidade da Luz – Dependendo do efeito desejado, pode ser mais dura ou suavizada com difusores.
Os Erros Mais Comuns
Muitos fotógrafos tentam recriar a Luz de Rembrandt apenas posicionando a luz corretamente, sem considerar a posição do rosto. O resultado? Iluminação que não transmite a profundidade e a escultura característica das pinturas do mestre holandês. A luz pode estar certa, mas sem o encaixe do modelo, o efeito se perde.
Destruo o pensamento da luz mágica e poses perfeitas aqui no vídeo:
😠 DANE-SE O TRIÂNGULO EMBAIXO DO OLHO!
Olhe novamente para os olhos no retrato da Fran Corrales, uma excelente fotógrafa de retratos de família e infantil de Caxias do Sul, e me responda honestamente:
Você realmente acredita que Rembrandt queria que se prestasse atenção na forma geométrica abaixo do olho?? Ou o triângulo foi posto ali justamente para que todos se concentrassem no que o olhar da Fran tem a dizer??
Primeiro eles pedem que você preste atenção no desfoque, depois exagere na nitidez, para então olhar para a última coisa que se deve olhar: uma bochecha parcialmente iluminada!
Consegue perceber que você está sendo condicionado a olhar para as partes menos interessantes de uma imagem? Como eles conseguem fazer isso justamente com aqueles cujo desejo é criar imagens??
A iluminação Rembrandt não é uma receita gráfica para se colocar um trianglinho iluminado não sei onde, mas de como gerar o impacto mais arrebatador da luz em um rosto, de como iluminar da forma mais dramática possível as janelas da alma do seu retratado!
Aí está a fotografia, ainda mais em um retrato: abaixo da nitidez e acima do desfoque, é como destacar o rosto da Fran da forma mais arrebatadora possível. É sobre a mensagem daFran, não sobre onde está o triângulo!
A Tradição Continua
Muito antes da fotografia, os grandes mestres da pintura já compreendiam e manipulavam a luz. Hoje, temos a vantagem da tecnologia, mas o princípio permanece o mesmo. Saber posicionar a luz é essencial, mas guiar o retratado é o que realmente faz a diferença.
O desafio está lançado: na próxima vez que iluminar um retrato, pense como Rembrandt – e posicione seu modelo como um verdadeiro mestre da luz.
Esse post é uma versão atualizada desde artigo do meu blog
Cara, você está me fazendo gostar cada vez mais de fotografia.