A Potência da luz não é importante!
Mais luz e menos confusão na hora de iluminar suas produções
Já parou para pensar na quantidade de números que nos cercam quando o assunto é fotografia? Aberturas, tempos, ISOs, distâncias focais... É um festival de dígitos que, quando bem compreendidos, se transformam em ferramentas poderosas para controlar a luz e criar boas imagens. Mas, às vezes, esses números podem nos pregar peças, principalmente quando a tecnologia entra em cena.
É o caso dos iluminadores de LED, ferramentas muito úteis, que conquistaram espaço nas produções de fotógrafos e cinegrafistas, mas trouxeram consigo uma confusão luminosa.
Se você é fotógrafo ou está inserido no universo do audiovisual, já deve saber que não há fotografia sem luz, a iluminação é quem dita o jogo e, a tecnologia LED tem trazido novas possibilidades, com equipamentos cada vez menores, mais portáteis e com uma boa eficiência energética, se comparados aos equipamentos de iluminação usados há 10, 20 anos atrás.
Acredito que se está lendo este texto, você já está nessa jornada da iluminação, e já deve ter se deparado com a tal "potência" medida em watts. Essa é a unidade de medida que encontramos mais facilmente ao buscar um iluminador de led, seja uma simples lâmpada, ou mesmo painéis e iluminadores profissionais utilizados em produções de foto e vídeo.
Por ser o número que fica em evidência no anúncio das lojas e na página de descrição do produto no site oficial do fabricante, tendemos a pensar que esse é o dado mais importante para diferenciar um LED do outro, e aí que se encontra o problema.
É comum achar que, quanto maior o número de watts, mais intensa e brilhosa é a luz. Mas, acredite, essa é uma meia-verdade que pode te levar a escolhas erradas e frustrações na hora de iluminar suas fotos e vídeos.
Eu não sou engenheiro eletricista, não tenho nenhuma formação técnica na parte elétrica, mas com uma boa ajuda do Google para encontrar artigos, manuais e referências que me ajudassem a entender esse dilema, resolvi escrever esse texto de uma forma simples, não-técnica, para que outros fotógrafos e cinegrafistas, como eu, pudessem compreender e tomar uma decisão mais acertada na hora de investir o seu dinheiro em um equipamento de iluminação.
Ao final do texto, deixarei referências em uma tabela para você poder se aprofundar mais no tema, caso tenha interesse (e eu recomendo que tenha).
Se você é fotógrafo, talvez já tenha se deparado com algum vídeo ou artigo do Renato Rocha Miranda sobre número guia. Ele já aborda o assunto de que potência não é a informação mais importante na hora de escolher um flash.
E o Renato tem razão, não devemos escolher um flash somente por sua potência em watts. Se nos flashes isso é verdade, por que nos LEDs seria diferente?
A questão é que os flashes foram desenvolvidos exclusivamente para fotografia, tendo sua divisão de cargas equivalentes às mudanças de abertura do diafragma de suas objetivas, do tempo de exposição que você escolheu para o obturador de sua câmera, e da sensibilidade ISO de sua película ou sensor.
Sendo assim, o número guia é a informação mais importante que você deve levar em consideração ao adquirir um flash. Mas nos iluminadores LED não existe número guia, a luz é contínua e, pode ser usada para fins além da fotografia.
Se você for curioso como eu, ao pesquisar um iluminador de LED, se ele tiver uma boa descrição, ou até mesmo no manual do produto, encontrará uma tabela com a medição em outras unidades de medida, como o Lux ou os Lumens.
Mas e agora? São três unidades de medida, qual eu devo levar em consideração? E como vou saber se estou comparando corretamente?
Vamos desvendar esses termos de uma maneira simples, e entender o que realmente importa:
Potência (Watts): Imagine a potência como a fome do seu iluminador. Ela indica a quantidade de energia elétrica que ele consome, como aquele amigo que devora um rodízio inteiro e ainda pede sobremesa. Mas, assim como nem todo mundo que come muito é forte, nem todo LED com alta potência entrega muita luz.
Fluxo luminoso (Lumens): Pense nos lumens como a quantidade de luz que sai da boca do iluminador, como a luz do Sol. Um LED com muitos lumens é como o Sol, que é a maior e mais forte fonte de luz que conhecemos, mas devido à distância, apenas uma pequena fração dessa luz atinge a Terra.
Iluminância (Lux): Aqui está o ouro! Os luxes medem a quantidade de luz que chega ao seu assunto, como o calor do sol na sua pele. Um LED com alta luminância em lux é como um dia de verão aqui na minha cidade (Natal/RN), que te deixa bronzeado em minutos. É isso que eu considero mais importante, e que sugiro que você também considere.
Mas se a potência é o consumo elétrico, não seria lógico que um LED que consome mais energia entregue mais luz que um LED que consuma menos energia? Teoricamente seria verdade, se não houvesse tantas diferenças na maneira que o LED dá saída à luz. Deixa-me explicar melhor:
Nem toda luz que sai de variados tipos de iluminadores LED são iguais. Há LEDs com luz mais concentrada, e outros com luz mais espalhada. Há também diferenças na qualidade e fidelidade de cor da luz, o que é medido pelo número CRI (isso ficará para um outro texto).
Há LEDs que possuem variação de temperatura de cor, indo do branco quente (e amarelado), até o branco frio (e azulado), e é por isso que existe aquele ajuste de balanço de branco na sua câmera, que geralmente você deixa no automático, não é? E não faz muito tempo que estão se tornando populares os iluminadores LED que entregam luz de cores variadas, dentro do espectro de cor RGB, e não à toa levam o nome de LED RGB.
Sabendo disso, faz sentido que um LED que entregue as mais diversas cores consuma mais energia que um LED que só entrega uma variação de temperatura de branco, que por sua vez, consome mais energia que um LED que entrega apenas uma luz branca neutra (5600K).
Posso mencionar ainda a eficiência energética, já que nem toda potência consumida é transformada em luz. Muito dela é dissipada e transformada em calor, por isso é comum que esses LEDs possuam um sistema de resfriamento com miniventiladores em seu interior.
Se você entendeu o que acabei de escrever, deve estar se perguntando como eu sei disso sem ser um profissional da área de elétrica e eletrônica.
Simples! Eu já testei alguns desses LEDs e vi na prática que LEDs de maior potência, mas com mais opções de temperatura e de cores, entregavam uma luz mais fraca que LED menos potentes, mas com uma luz branca neutra. E recentemente, quando precisei comprar um novo iluminador LED, fiz uma intensa pesquisa e analisei as características das opções de LED que achei viáveis para o tipo de trabalho que eu faço.
Analisei a potência e a luminância de cada um, fornecida (não tão facilmente) pelo fabricante. Determinei um padrão para todos e fiz uma tabela para comparar qual que entregava mais luz. ( no fim do texto há um link para baixá-la)
A pesquisa que fiz não tem valor científico, é apenas um comparativo para facilitar a minha decisão de compra. Você pode tomá-la como base para fazer a sua escolha, mas a responsabilidade pela compra ainda é sua.
Sabendo disso, eu determinei como um padrão de comparação os LEDs na temperatura de 5600K, utilizando o refletor que geralmente acompanha o kit, e a luminância medida em LUX a um metro de distância. Como disse, essas informações estavam disponíveis no site do fabricante ou no manual do produto.
Olhando a lista acima, você pode notar modelos que levam o número 300, 200 no nome e que tem essa correspondência em watts, mas que tem número de LUX inferior a outros modelos com potência menor. Como é o caso do Godox VL300 II que mesmo com 300 watts, tem menos LUX que o Godox SL200 III e o Godox LA200D que tem apenas 200 watts.
A resposta para essa questão é que a linha VL da Godox prioriza que seus equipamentos sejam silenciosos, e praticamente não emitam nenhum ruído, para produções que exijam essa característica. Os iluminadores da linha SL e LA podem conter miniventiladores que são mais barulhentos, para quem não se incomoda com isso.
Espero que tenha ficado clara essa diferença entre potência e luminância. Mas que fatores, além da intensidade da luz, devo considerar na hora de comprar um iluminador de LED?
Para responder essa pergunta eu precisaria saber que tipo de produção você realiza. Cada caso vai ter uma necessidade específica. Mas de uma forma geral, eu costumo analisar: garantia disponibilidade do produto no Brasil; se possui assistência técnica; qualidade de construção do produto; se funciona à bateria ou somente na tomada; tamanho e peso; se permite encaixe de modificadores de luz; e o nível de ruído que ele produz, além é claro, da intensidade da luz.
Note, uma pessoa que precisa iluminar um pequeno objeto, em um ambiente interno, sem luz do sol vindo das janelas, precisa de um LED com características diferentes de quem precisa iluminar um grupo grande de pessoas em um ambiente externo, na sombra, em um dia de sol. São situações completamente distintas, e você precisa se atentar aos aspectos que mais impactam nas suas produções.
Destaco um fator que muita gente negligencia: o peso e o tamanho. Esses iluminadores LED costumam ser grandes e pesados, e exigem o uso de bons tripés. Não é incomum ver pessoas que tiveram seus LEDs quebrados por queda em tripés fracos. Se você vai utilizar o LED para gravar vídeos, a quantidade de ruído que ele emite é fundamental para que não apareça no áudio do seu vídeo. Portanto, fique ligado!
Mesmo tentando simplificar o assunto ao máximo, deu para notar que não é tão simples assim escolher uma iluminação de LED para suas produções, não é? Mas acredito que esse texto vai te ajudar a fazer uma boa escolha.
Escolher um equipamento de iluminação é como escolher um bom vinho: não basta olhar o rótulo, é preciso conhecer a uva, a safra e o seu próprio paladar.
Referências: