Não há mais, mãe, não há mais
Não há mais meu filho amado
Quando chegar, deixa recado.
Não há mais, mãe, não há mais
Tira essa barba, te envelhece
Mãe, não há mais santos e nem prece
Não há mais Alberto, Amélia e Dinda
Raul, Ivone e Mauro, mãe
Não há mais dor, agora finda
Não há mais, mãe, não há mais
Os Marlboros no cinzeiro,
Não há mais vento com teu cheiro.
Não há mais o "eu te proponho" do Roberto
Não há mais almoço no Degrau
Mãe, não há mais você por perto
A mesa posta, o bacalhau.
A festa pela fresta
Da porta aberta no Natal
O bom velhinho nos sorrindo
Pendurado num portal
Postei fora da entrada
A carranca avermelhada
Não protege, mãe, serviu pra nada
Viu a força leonina, a turrice da taurina
O amor da mãe menina
Não há mais, nem haverá
Mãe, erro o verbo conjugado
Amar agora é no passado
Como amar a Marcia?
Se não há mais, nem haverá?
Largo tua mão, atravesso a rua
Essa travessia agora é tua
Eu te olho do outro lado
Teu olhar desesperado
Com o que o Anjo veio anunciar
Não há mais argolas nem dourado
Mãe, não há mais quem conte meu passado
Quem me entenda num olhado
Ou que tenha sempre me julgado
Muito parecido com meu pai
Mãe, tá tudo errado!
Agora é o meu tempo que se vai
Já estou há dias daquele instante
Em que não houve mãe, nem haverá.
Me dê mais uma chance,
pra berrar algo que te alcance:
Marcia Maria
Santos Cavalcanti
Com i, isso é importante
To com saudade, mãe
Gigante.
Nem todo Dia das Mães é feito de flores, risos e cafés da manhã na cama.
Pra alguns, é feito de silêncio, de ausência, de perguntas que ficaram sem resposta.
Essa poesia é pra quem sente mais do que consegue dizer hoje.
Grande Renato, meu mestre e amigo! Como vc, já perdi os pais mas resta a saudade boa dos bons momentos , desde o nascimento até os dias finais! Grande poema, grande poeta!!
👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼