Decidi então não mais matá-la
De tudo um pouco já havia tentado
Te joguei no fundo de um poço,
Mas você não havia mudado
Agora vou trancafiá-la
Joguei fora a chave,
Ficou só o cadeado
Mas teu corpo resistia,
Totalmente imaculado
E da lista que fazia,
Selecionei um atentado:
Um carro bomba estacionado
Bem na porta da prisão,
Mas era só o piloto que morria
Quando detonava a explosão
Selecionei as facas de carniçaria
Aquelas cujo o aço incisivo corta
Mas na carcaça que eu abria
Pouco havia da sua carne morta
E aquele cheiro putrefato
Não apagava que, de fato
Era outra perfumaria
Que visgava o meu olfato
Um mosto de gozo, sangue e suor
O veneno petricor
Da minha deusa licorina
Dez leves pontos de contato
Mãos e dedos de um Renato
Atritam tua pele branca
Estricnina
Dois deles abrem o talho
De um lagar celestial
O resto parte pro pescoço
Com a raiva da espécie canina
Aperto e dilacero até o osso
Meus dentes na sua jugular
Serpentina
E sorvo o sangue visceral
Mas és animal sem peçonha
Teus braços, pernas e ventre
São só espasmos sem vergonha
Boa constrictor é o animal
Que agora rasteja risonha
Por baixo de um lobo agonizante
Só resta a serpente primal
Levo teu rosto na retina
E nas narinas seu vapor
Doces lembranças desse instante
Em que sua força asfixiante
Aliviou meu estertor
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Emocionante, visceral, transcorre nos meandros da mente... Mas a mágoa ainda está lá, às vezes fraca, às vezes forte... Parabéns e bjo na alma!