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Sergio Zalis: Uma Jornada Pessoal Entre Duas Florestas

O fotógrafo explora os contrastes da natureza e da vida em uma exposição que convida à reflexão e à contemplação.
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Sergio Zalis foi meu editor e reúne qualidades que poucos fotógrafos têm: além do talento para a diplomacia fotográfica, a experiência gerencial e de organização de equipes. Compartilhar alguns momentos com ele, junto de outros talentos no figurino, maquiagem e cenografia foi realmente um divisor de águas na minha vida fotográfica e rendeu casos que, em breve, estarão aqui na Obscura.

Neste post, mergulhamos no universo do fotógrafo Sergio Zalis e exploramos sua exposição, 'Dicotomia'. Em uma conversa íntima, Zalis nos leva por uma jornada visual e emocional, revelando os segredos por trás de suas imagens hiper-realistas e a profunda conexão com a natureza.

Descubra como a luz, os tons e a técnica fotográfica se entrelaçam para criar obras que transcendem a realidade e convidam o espectador a uma imersão profunda.

Não perca esta oportunidade de conhecer um dos maiores talentos da fotografia contemporânea, que mostra suas imagens na sua nova exposição “Floresta de Bolso”, com curadoria de Christiane Laclau, no Casa Cor, no Shopping São Conrado Fashion Mall, de 24 de Setembro a 24 de Novembro de 2024.

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1- Você está no Outono nas duas cidades, dias e noites com a mesma duração. Rio e Haia ficam mais próximas, pelo menos na temperatura..rs. A dicotomia começa aí, astronomicamente falando?

Zalis: Eu quis mostrar essa dicotomia usando microuniversos, que são essas duas florestas, são florestas que têm a ver comigo. Uma aqui, embaixo da minha casa, que se chama Scheveningse Bosjes, é difícil pronunciar, eu sei, e a outra aqui no Jardim Botânico, que também é um lugar que eu sempre frequentei. As luzes são muito diferentes, entendeu?

Principalmente na Holanda, lá você tem quatro estações que são muito marcadas, principalmente pela luz, além do mais, a Holanda não tem montanhas, o Sol se põe muito mais devagarinho e aparece em toda a cidade.

No Rio é diferente, você tem montanhas em volta, às vezes, é quatro da tarde e você já não tem mais luz, você não vê o Sol, é uma luz que é rebatida pelas nuvens ou pelo que seja.

As luzes são muito diferentes, mas a paixão que eu tenho pelas duas cidades é a mesma, e a paixão que eu tenho pelo verde, pelas florestas, é a mesma também, ou seja, a luz de Outubro na Holanda é muito diferente da luz de Outubro aqui no Brasil.

2- Eu vi nas fotos uma separação, um contraste muito grande entre áreas extensas iluminadas e sombras do parque, embora haja dicotomia entre os parques, ela persiste também em cada foto?

Zalis: A gama de tons te dá uma profundidade muito maior na fotografia, e se você entende disso, quem trabalha no digital deve ler o livro do Ansel Adams, que fala sobre o Zone System. O que é o Zone System?

Ele separa a imagem em várias zonas diferentes de cinza. Então, você tem que que ter os 12, são 12 zonas que têm que aparecer na fotografia, eu uso muito nesse tipo de foto.

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3- Cada centímetro do quadro tem vida própria, sem hierarquia entre uma ou outra parte. Como conciliar isso numa composição, onde por regra, um assunto tende a dominar o outro?

Zalis: Quando vê uma imagem, quando você vê a vida real, ela seleciona trechinhos do que você vê. O teu cérebro foca em uma coisa, mesmo que veja tudo em volta, mas você está concentrado em partes pequenas, você não consegue ver tudo ao mesmo tempo.

Essas fotos não, elas tem detalhes em toda a área, quando você vê essa foto ao mesmo tempo, pode se concentrar vendo várias coisas que não veria quando está olhando o objeto. Você pode ver isso na foto, na imagem, mas não na vida real, por isso é uma foto hiperrealista.

4- Essa é uma arte sutil? Para olhos dedicados e pacientes?

Zalis: A vida é tão louca que a gente não observa bem as coisas. E às vezes, nas fotos que estão aqui, eu comecei a observar coisas depois que a foto está pronta. Então a finalidade é essa.

Nem tudo, quando eu fotografei, eu não vi todos os detalhes, eu só vi os detalhes depois que a foto ficou pronta. Depois eu posso mostrar que achei uma aranha numa foto que eu não tinha visto na hora da foto!

5- Você me disse certa vez, profeticamente, que a era da fotografia bonita acabou, que vivemos na era da fotografia rápida. Sua exposição Dicotomia mostra um trabalho que levou um tempo para ser feito. Como conciliar esses dois movimentos dicotômicos?

Sempre falei isso, antigamente você fazia uma foto boa, aí revelava, mandava e a foto era publicada. Hoje em dia, a foto boa, entre aspas, é a foto que chega antes, é a foto que é usada.

Às vezes uma foto que é muito, muito melhor não é usada porque chegou um pouco depois. Agora, eu venho do fotojornalismo, sempre trabalhei com a rapidez, com resultado rápido, com a editoria, realmente, depois de um tempo, eu cansei disso.

Então, para mim, essas fotos não eram rápidas, eram muito lentas, era um trabalho muito artesanal, inclusive, eram complicadas de fazer e também eram complicadas de preparar, de montar elas.

6- As fotos são feitas por empilhamento de foco, nos obrigando a reparar em cada detalhe. Ficamos anestesiados com a fluxo visual das mídias? Menos fluxo e mais fruição?

Zalis: Tento fazer uma foto bonita, bela, tento fazer uma foto sublime! E em uma foto sublime até a brutalidade faz parte disso, essas fotos que eu faço são às vezes meio brutais, porque elas mostram demais: é muito detalhe, é muita trama...Então não tento fazer fotos belas, tento fazer fotos brutas às vezes!

7- Há uma hiperprofundidade de campo nas imagens, tudo extremamente nítido, há uma imersão proposital numa fantasia?

Zalis: São partes de uma fase da minha vida, hoje em dia, é como eu estou me sentindo hoje em dia. Eu não quero mais fazer fotos rápidas, eu não quero mais fotografar gente! Eu estou me fotografando aqui nessas imagens.

8- As impressões são gigantes, impossíveis de serem reparadas na tela de um celular ou de um livro. Como você lida com isso?

Zalis: Exatamente! Acho que nem um livro dá para fazer com essas fotos, porque se você vir essas fotos em um livro, em uma revista, não traz o que eu quero falar. Então, quando dizem: “ah, vamos fazer um livro?” Tá bom, mas acho que não vai ter o efeito, porque são para você encostar o nariz quase nelas, para você ficar passando um tempo e lendo as imagens.

Acho que essas imagens não funcionam em celular, não funcionam nem em livro, para você emergir nelas, você fica viajando com a tua imaginação. E são cortes no teu tempo, eu acho, cortes para você ter calma também, para você não correr. Elas têm um ritmo, têm uma sintaxe também. Espero que funcione!

9- Qual a dictomia que o Zalis vê entre as imagens que estavam na sua mente e agora depois de expostas?

Por vir da vida editorial, eu sempre trabalhei em editoras, sempre tinha uma visualização de uma reportagem, de um trabalho. Eu já vi essas fotos publicadas antes de fotografar! Sabia o que eu queria, mas não construí a foto, inclusive, a foto tem uma vida após a produção.

Não é uma foto que você via exatamente, tinha que ser vista depois da produção, porque quando você trabalha com essa técnica, não consegue compor a foto perfeitamente, é uma técnica que você sempre corta os lados, se a câmera estiver um pouco torta, já sai do prumo.

É uma técnica muito complexa, mas eu fazia as minhas composições com o celular, antes. Eu caminhava, levava só o celular e aí imaginava as fotos na minha cabeça pelo celular, aí depois eu voltava com o equipamento mais pesado.

10- Qual a diferença entre uma foto bonita e outra sublime?

Uma foto sublime é muito mais do que bonita! Uma foto bonita é uma...É um adjetivo...Sublime é muito mais! Pode ser bruto, mas é uma foto que mexe mais com você.

Arrebatadora!

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